Mas por alma de quem...
Sei que te assalta uma enorme questão em torno deste livro…
Mas por alma de quem haveria eu de escrever sobre fantoches e marionetas?
Adoro a expressão “por alma de quem”… desculpa-me o desabafo… mas afinal de contas este será apenas um entre os vários que me estou a propor ter contigo… proponho-me desabafar contigo e revelar-te uma série de curiosidades, algumas até bem pessoais, sobre os contos deste livro… sobre como surgiram, quem são estas personagens, inspiradas em quem e qual o propósito de cada um dos contos.
Mas então porque me lembrei eu, um dia, de escrever sobre estes seres animados?
Podia começar pelo princípio, como por norma todas as histórias começam…
Recuava até 1993 e falava-te de um grupo de teatro infantojuvenil, de um grupo de amigos, de como eu era tímida e cheia de inseguranças… mas nunca gostei de começar as histórias do modo normal.
Prefiro pegar no meio da história.
É precisamente pelo meio desta história que os afetos se construíram, entre latas de tinta e de cola de contacto, pelo meio de pincéis, serras, martelos, pelo entremeio de placas de esponja, esferovites e ripas de madeira… foi lá pelos meandros dos retalhos de tecidos coloridos… foi por esses “entrespaços” que percebi por entre as minhas dúvidas, incertezas, fragilidades, inseguranças e timidez que existia um mundo de fantasia e criatividade guardado em mim.
Foi por este entremeio… neste entremeio de ensaios, de construção de cenários e de fantoches e marionetas que me foram arrancados os melhores sorrisos e as mais sonoras gargalhadas. E não! Não foi pelo cheiro da cola de contacto que a certa altura na oficina era inebriante. Não. Foi sempre pela cumplicidade e bom humor… melhor dizendo… pelo bom-amor que construíamos.
Na altura talvez não tivéssemos dado conta… hoje sei que foi precisamente neste meio da história que se instalaram os afetos.
Este livro surge pela minha necessidade de homenagear e manifestar a minha gratidão a um grupo de pessoas, amigos, que me mostraram como é simples transformar o pouco num mundo de fantasia. Como é simples pegar em restos de alguma coisa, ou de coisa nenhuma, e dar-lhe vida, passando emoções… e permitindo que as nossas inseguranças e fragilidades sejam o ponto de partida para uma história… uma história de vida.
Mas por alma de quem haveria eu de escrever sobre fantoches e marionetas?
Pela minha!
Sandra Lima
© 2021 | Sandra Lima