Continuamos a falar da minha biblioteca infantil que era de facto muito mais do que só uma biblioteca.
Era… porque com o tempo… com o tempo a minha biblioteca precisou de se mudar de sítio.
O ex-quartel de que vos falei na Parte I ia agora deixar de ser sede de uma parte da cultura vianense para dar lugar à educação. Deixaria de acolher grupos de teatro amador e a minha biblioteca infantil, para acolher estudantes do ensino superior. Mais uma vez o ex-quartel se transformava e adaptava às necessidades da cidade e a minha biblioteca infantil lá de mudou.
“De mala e cuia” lá foi vê-la sair de um ex-quartel para uma antiga casa senhorial “Casa dos Monfalim” juntando-se à biblioteca dos grandes.
Confesso que tenho sempre alguma dificuldade em me referir à outra parte da biblioteca onde os adultos leem, pesquisam… Ainda continuo, e apesar de já ser adulta há muitos anos, a referir-me a elas como “a biblioteca dos grandes” e “a minha biblioteca infantil”.
Mas lá foi ela “de mala e cuia” juntar-se à outra na Casa dos Monfalim.
A biblioteca dos adultos teve uma vida agitada, sempre de um lado para o outro, mas sempre por casas senhoriais da nossa cidade, monumentos de destaque na cidade e na história do país… Palácio dos Cunhas, Passos do Concelho, Palácio dos Barbosa Maciel, Casa dos Alpuins, Casa dos Monfalim… enfim…daria outra história a viagem desta biblioteca pelos recantos de Viana do Castelo…
Mas a minha biblioteca infantil e dos outros ex-pequenos frequentadores assíduos e ávidos leitores lá se instalou na Casa dos Monfalim. Mas a mala era pequena e não podia trazer tudo das mudanças do ex-quartel do BC9.
Quando subíamos as escadas já não se sentia o cheiro a lápis de cera, nem se ouviam os risinhos das crianças. No cimo das escadas as portas já não eram de madeira, mas antes de vidro e quando as abríamos ouvíamos um silêncio quase assustador. Assustador para nós que estávamos habituados a uma biblioteca só para nós, crianças.
Em vez das três salas para diferentes tarefas de exploração de leitura, já só havia uma. Grande. É certo. Era grande. Mas já não podíamos rir tanto, nem podíamos falar tanto, nem era possível criar os nossos teatros ou construir os nossos bonecos. Não era pior, nem melhor. Era diferente.
Parecia que a minha, nossa, biblioteca infantil tinha crescido, tal como eu e os outros ex-pequenos frequentadores assíduos e ávidos leitores. Talvez um pouco à pressa.
E claro, como logo ali ao lado quase sem paredes e sem nenhuma porta a separar estava a biblioteca dos grandes, havia sempre uma mãe e um pai… ou até mais… que se deixavam ficar por ali ao pé de nós. E alguns até liam para os mais pequenos!
A minha biblioteca infantil estava diferente. Estava a crescer. E quando crescemos precisamos de mais. Mais espaço, mais oportunidades, mais livros…
E então voltou a mudar!
Desta vez decidiram colocar a biblioteca dos grandes e a minha, nossa, biblioteca infantil num edifício feito só para elas. Bem pensado. Onde agora, os filhos de nós, outrora pequenos frequentadores assíduos e ávidos leitores, pudessem voltar a rir, a falar, onde pudessem ouvir contos narrados e onde pudessem desenhar e pintar o que liam e ouviam…
Decidiram… não sei bem quem… mas com certeza deve ter sido alguém importante… decidiram que havia de ficar no sítio mais bonito da cidade, junto ao rio e com vista para o monte… e que haveria de ser nova e moderna como os meninos e meninas de agora são. E por isso pediram a um arquiteto que percebe de espaços novos, dinâmicos, cheios de vida que a desenhasse… Arquiteto Siza Vieira.
Agora a minha biblioteca infantil tem vários espaços, sem portas… espaço de leitura e exploração de livros para bebés. Chamam-lhe Bebeteca. Um espaço de leitura livre. E um espaço de audição de contos narrados.
Ah! E agora como a minha biblioteca infantil cresceu e como tal como todos nós aprendeu a adaptar-se a novas formas de ler e ouvir ler também tem um espaço de audiovisual e recursos digitais.
Digam lá que a minha biblioteca infantil… vá… a nossa biblioteca infantil não tem tanto que se lhe diga?
E se ainda não a conheces… vem visitá-la. A minha biblioteca infantil, a nossa, está à tua espera para que possas ler e ouvir histórias.
E quem sabe se a próxima história a ouvires ou a leres lá não será minha?!
Sandra Lima
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